Postagem em destaque

Resenha O misterioso caso dos Styles

Autora Agatha Christie                                                              Sinopse “Caía a madrugada na casa de campo de Styles qua...

terça-feira, 31 de março de 2020

RESENHA - PARAÍSOS DE VIDRO - Jadiael Viana

RESENHA PARAÍSOS DE VIDRO




SINOPSE:

Uma onda de atentados terroristas assola as calçadas do mundo editorial. Saulo, um excêntrico estudante de Jornalismo, decide investigar o caso por conta própria. A sua busca por respostas o levará a confrontar os interesses de pessoas muito poderosas.
Para sair vitorioso dessa jornada, o jovem estagiário vai contar com a ajuda pouco provável de Tássio; ninguém mais, ninguém menos, que o seu novo chefe.
Os dois se conheceram na redação do jornal. Foi ódio à primeira vista. Ícaro, no entanto, não está muito convencido disso, e vai fazer de tudo para unir o casal.
O clima é de comédia romântica, mas, nem tudo são flores. Dividido entre o amor que sente e o terrível segredo que carrega, a principal luta de Saulo não é contra os desafios da vida, mas para vencer o obstáculo intransponível chamado morte. E uma vez que não se pode impedir a visita do inevitável, caberá a ele tentar adiar ao máximo a sua chegada.



CRÍTICA:


O livro nos traz a história de ódio a primeira vista dos dois protagonistas, Saulo e Tássio, que trabalham em um jornal, o antagonismo deles já aponta para um final romântico, o que para muitos pode desmerecer o romance de cara, ainda mais com a apresentação do narrador que nos blinda de cara com esse texto:

"Tás & Sal uma história de amor que o destino escreveu nas areias do tempo.

A propósito, eu sou o Ícaro. Muito prazer."


Ícaro além de narrar, se propôs a tarefa de ser o cupido entre os dois anjinhos citados criando assim um triangulo que tem como intuito levar a você leitor a uma divertidíssima trama. Para quem goste do gênero é claro!
Na hora me vem a cabeça vários filmes com essa temática e uma inclusive se passa em um jornal também, "A verdade nua e crua" se trata disso.
Mas certas coisas existem para nos mostrar que preconceito literários precisam e devem ser desconstruídos.

Esse livro poderia ser denominado a grosso modo como um pastelão. E eu não gosto de comédias pastelão! Para mim a comédia deve vir acompanhada de um contexto bem estruturado e se tiver algum sarcasmo, melhor ainda.
São poucas as comédias sejam elas românticas ou não que eu assisto, não consigo engolir certos comediantes que acham que caras e bocas, gritos e movimentos exagerados é de alguma forma sinônimo de engraçado. Com isso vocês já devem estar imaginando quando seu amigo resolve escrever algo do gênero e ainda põe seu nome nos agradecimentos bem no início do livro:

"Agradecimentos:

Aos escritores Patrick Sousa e Mônica Nunes, pela contribuição que me permitiu criar não apenas o ambiente de trabalho de uma redação, mas também a rotina de um profissional do universo jornalístico. Os seus depoimentos foram essenciais para a composição da personalidade de vários personagens aqui apresentados: da guerra pela informação à luta pela prevalência da verdade e da justiça.
E a você, Jackelline Souza da Costa, uma das maiores amizades que eu já pude encontrar na imensidão do mundo virtual. Que um dia a nossa proximidade atravesse a tela."
 


Quando eu li, meus olhos se encheram de lágrimas na hora! Um pouco de orgulho mesclado de medo de não corresponder a tamanha amizade me deixaram uns momentos paralisada. 
Estou compartilhando isso para que vocês tenham noção do tamanho da minha responsabilidade ao ler e resenhar essa obra. Eu tenho antes de tudo, um compromisso comigo mesmo em relação as críticas que faço com cada obra. Me nego a trazer um resenha que não represente o que eu sinto e penso verdadeiramente, e o fato de ser um amigo e que me considera tanto assim só faz o peso ser maior ainda. 

Comecei a leitura já pensando em como dizer para o Jadiael que eu não havia gostado. E que se eu fizesse uma resenha poderia não ajudar de uma maneira positiva como foi com a outra obra dele "Homens não Choram", livro com o qual eu conheci a sua escrita.
E por falar em escrita, a forma com que ele escreve é única, pode se contar nos dedos os autores que usam um vocabulário rebuscado assim. Porem, apesar de ter palavras que são pouco usadas na nossa literatura, principalmente na atual, a leitura de forma alguma se torna enfadonha ou difícil de se entender.
Voltemos ao fato de eu ter que dizer que não gostei do livro e tal......

Ao adentrar na trama, fui aos poucos invadida por questões filosóficas que de  tão profundas me fizeram parar e tentar conseguir responder a essas perguntas, me vi refletida na amizade de duas pessoas que entendem o que um representa para o outro de uma forma simples e ao mesmo tempo de uma profundidade tão grande que pode dar medo de se jogar em algo e não conseguir voltar a superfície:


"É incoerente dizer que a gente se completa, pois não somos como peças distintas que se encaixam, como em um quebra-cabeça. O mais correto seria dizer que a gente se reintegra, pois somos como duas gotas de água que se misturam, virando uma poça só de lama. Eu vi um pouco de mim nele, e ele enxergou um pedaço de si mesmo nos meus olhos".
O enredo tecido pelas palavras do autor me deixou em um suspense emocional tão intenso que as vezes nem percebia que estava ansiosa por terminar e saber como acabaria o capítulo, e o que me aguardaria no próximo.
Não havia nada de pastelão no livro, somente na minha cara ao admitir isso.
O livro é perfeito no que se propõe a fazer: divertir na medida certa, nos fazer refletir em questões que vão além sobre o certo e o errado, nos torcer por um amor que tinha tudo para dar errado e reconhecer que as pessoas estão além de simples taxar de anjos ou demônios e que cada um, mesmo você e eu, não somos seres perfeitos, e é nas nossas imperfeições que temos a chance de crescer.
Meu erro foi achar que o livro se tratava apenas de mais um romance. Não podia estar mais errada! Nos temos como pano de fundo uma onde de atentados terroristas e que a equipe da redação tenta a todo custo resolver e com isso acabam entrando na vida um dos outros revelando assim segredos que seriam melhor continuarem assim, escondidos dentro de cada um.
O livro fala também da luta pela vida e como determinadas doenças podem ser cruéis com quem tem a "estranha mania de ter fé na vida" como nos diz a música "Maria, Maria".
Mas a fé na vida não é garantia de que as coisas vão dar certo. A realidade da vida é cruel e não é difícil nos deparar em situações que por  muita das vezes, se torna preciso ir um pouco mais além para que se consiga superar os inúmeros obstáculos.
A mensagem que o livro quer passar é que  muitos não podem parar de trabalhar em função de estarem doentes,  e que as necessidades primarias de comer e ter onde morar falam sempre mais alto, e que o câncer pode não ser a palavra final, pode não ser a guilhotina que irá decepar a sua cabeça. A medicina evolui muito e o tratamento apesar de difícil, não é impossível. 
Não estou afirmando aqui que o Saulo irá sobreviver e que ele vai entrar em estado de remissão, mas também não estou negando, se você estiver disposto a descobrir, aconselho que leia o livro.
Por falar em Saulo, ele é de longe o personagem mais complexo da trama, um anti-herói por assim dizer, com uma forma muito sua de perceber e agir em sei meio. 
Abordar temas como câncer exige em conhecimento muito grande sobre o assunto para não se falar apenas o trivial. Todo o processo de tratamento, foi ao meu ver muito bem estruturado e isso demanda pesquisa ate para quem é profissional da saúde, imagina para um leigo. E por falar em pesquisa, a rotina da redação de jornal onde se passa boa parte dos diálogos e onde os personagens trabalham está muito bem construída, não tem como ler e não se transportar para o jornal. O leitor consegue até tocar no cenário se ele der asas a imaginação.
E é assim que eu te convido a conhecer essa obra maravilhosa e se descontruir de preconceitos literários como eu, caso você seja uma pessoa que ja julga a obra pelo titulo, capa ou gênero. 
Paraíso de Vidro veio para ficar e tenho muito orgulho de participar nem que seja de uma maneira singela de sua divulgação.



Sobre o autor:


Natural de Uruçuca, Jadiael Viana  de 32 anos passou a adolescência em Carapicuíba, zona Oeste de São Paulo. Atualmente mora em Uibaí, interior da Bahia, onde escreve seus livros. Jadiael Viana é um dos poucos autores da atualidade que ousa usar um vocabulario rico, beirando ao clássico, mas incrivelmente contextualizado com o presente. Eu consigo imaginar daqui ha uns 100 anos, as pessoas falando dele como se fala das obras clássicas de autores falecidos e que na época em que viviam não eram tão reconhecidos. Uma triste realidade brasileira. Mas guardem esse nome: JADIAEL VIANA, um gigante da literatura em um pais em que pouco ou quase nada valoriza o escritor.