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Resenha O misterioso caso dos Styles

Autora Agatha Christie                                                              Sinopse “Caía a madrugada na casa de campo de Styles qua...

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

RESENHA - A GAROTA DO TREM


SINOPSE

Todas as manhãs Rachel pega o trem das 8h04 de Ashbury para

Londres. O arrastar trepidante pelos trilhos faz parte de sua

rotina. O percurso, que ela conhece de cor, é um hipnotizante

Em determinado trecho, o trem para no sinal vermelho. E é de lá

que Rachel observa diariamente a casa de número 15. Obcecada

com seus belos habitantes – a quem chama de Jess e Janson –,

Rachel é capaz de descrever o que imagina ser a vida perfeita do

jovem casal. Até testemunhar uma cena chocante, segundos

antes de o trem dar um solavanco e seguir viagem. Poucos dias

depois, ela descobre que Jess – na verdade Megan – está

desaparecida. Sem conseguir se manter alheia à situação, ela vai

à polícia e conta o que viu. E acaba não só participando

diretamente do desenrolar dos acontecimentos, mas também da

vida de todos os envolvidos.



A história gira em torno de três mulheres e seus relacionamentos

afetivos com Tom e Scott: Rachel, Anna e Megan

Rachel: Separada de Tom, por causa do seu alcoolismo, Rachel

viaja todos os dias num trem que passa por sua antiga

vizinhança, e para evitar olhar para a casa onde vivia observa a

vida aparentemente feliz de Megan, que envolve muito carinho e

sexo com seu marido, até que um dia dá de cara com uma cena

que a deixa chocada: a Megan está com um homem diferente.

Desconcertada com isso e muito bêbada, ela vai até o local, tem

um apagão e mais tarde descobre que Megan desapareceu, e

por estar sempre “perseguindo” seu ex ela se torna suspeita, já

que a vítima trabalha para ele. A partir daí ela tem que tentar se

manter sóbria para descobrir o que aconteceu, quem causou e

até que ponto está envolvida nisso. Rachel não é apenas fraca,

ocasionalmente ela apresenta ser rancorosa e auto-compasiva,

também tem excesso de peso e relativamente pouco atraente;

um saco triste em comparação com uma Megan e Anna.

“De vazio, eu entendo. Começo a achar que não há nada a se

fazer para preenchê-lo. Foi o que percebi com as sessões de

terapia: os buracos na sua vida são permanentes. É preciso

crescer ao redor deles, como raízes de árvore ao redor do

concreto; você se molda a partir das lacunas.” Rachel – pg 114


Anna: Casada com Tom, o ex marido de Rachel, com quem tem

uma filha, e Megan é a babá da criança.

Seu status mudou de amante e segunda opção a dona de casa,

esposa e mãe, Anna não parece se sentir como deveria, uma

mulher realizada, em sua nova função. A dedicação à sua filha é,

talvez, a coisa mais verdadeira e real para ela, porem no

casamento, a sombra de Rachel sempre a incomodou. Ligações

anônimas e mensagens com remetente oculto no celular de Tom

fazem-na pensar que a sua família jamais se veria livre da

perseguição da inconformada ex de seu marido, por mais que ele

dissesse que tais atitudes eram inofensivas.

“Não tem trabalho mais importante do que criar um filho”.

(Anna)


Megan: Casada com Scott, e que na visão de Rachel, é o exemplo

de relacionamento perfeito, onde a felicidade reina plenamente,

no entanto, quando olhamos com os olhos de Megan,

recebemos um choque ao constatar como as aparências

enganam, e que aqueles momentos não diziam nada sobre sua

verdadeira condição. Por mais que a vida de Megan tivesse

muitos confortos, ela não era feliz. Seu passado é uma incógnita,

e ela não está em sincronia com o marido quanto ao casamento.

Semanalmente ela confidencia ao seu terapeuta, Dr. Abdic, todas

as suas infelicidades, e não demora muito para que possamos

perceber que por trás de sua leveza física, não há como

mensurar o tamanho da bagagem emocional que carrega. Megan

passa seus dias em fingimento, e sequer é preciso muita atenção

para perceber a apatia em seu semblante.

“Uma vez, um professor me disse que eu era mestre em me

reinventar. Eu não tinha certeza do que isso significava naquela

época, mas desde que eu me mudei pra cá eu comecei a

entender… Eu quero recomeçar a minha vida. Até agora, eu fui:

uma adolescente rebelde, amante, garçonete, diretora de

galeria, babá e puta. Não necessariamente nessa ordem.”

(Megan)


Você vai conhecendo mais da história de cada uma delas,

entendendo seus dramas e dilemas e cada hora suspeita de uma

coisa que vai ser desconstruída logo em seguida (ou não).

Essa relação de três mulheres aparentemente problemáticas

com os três homens “misteriosos”: Tom, ex marido de Rachel e

atual de Anna, Scott e Kamal Abdic, marido e terapeuta de

Megan, respectivamente, e é a presença deles que nos dá

exemplos claros de dois assuntos que estão entrelaçados no


Temas dentro do enredo: relacionamentos abusivos e gaslighting (O nome

é complexo, mas seu significado é bastante familiar para muitas

mulheres. Trata-se de uma forma de abuso psicológico no qual

informações são distorcidas e/ou omitidas para favorecer o

abusador ou simplesmente inventadas com a intenção de fazer a

vítima acreditar que é louca e neurótica, duvidando de sua

própria memória e sanidade). Relacionamento abusivo não é

apenas aquele marcado por agressões físicas ou trocas de

ofensas e xingamentos. A relação pode se tornar tóxica de forma

bastante sutil, resultando em grande impacto negativo na

autoestima e na confiança da vítima.

O primeiro está explícito desde o momento em que conhecemos

Megan, durante suas sessões de terapia, ela permanece com

Scott mesmo sem vontade nenhuma, mesmo tendo sua vida

completamente controlada, quase como forma de autopunição

pelos seus erros do passado, e só consegue se abrir para Abdic,

com quem tenta ter um caso loucamente. Ele é tão absurdo que

após o desaparecimento esse comportamento agressivo acaba

sendo “transportado” para a coitada da Rachel que entra em

contato tentando ajudar, no final das contas a gente vê que não

importa os erros da pessoa, ninguém merece ser tratado assim.

Inclusive muito do que rola na vida da Megan (e que acaba

causando seu fim trágico) poderia ter sido evitado desde o início

da parte difícil da sua história se ela tivesse tido apoio pra

melhorar e sentir menos culpa pelo que passou.

O segundo nos vemos claramente que a Rachel foi vitima

durante muito tempo, e que isso influencia na sua vida presente

de uma maneira catastrófica, levando-a a acreditar em sua

completa incapacidade de ser elegível para ser amada.

O que é, contudo, a bebida. Rachel é um tônico de vodca

decadente e exuberante em uma taça de plástico. Por isso, ela

atende um único A.A. reunião e bingo! - o problema começa a

ser limpo. Percebemos que o alcoolismo nunca foi um tema

sério; era apenas uma desculpa para a síndrome das falsas

memórias e, portanto, uma maneira preguiçosa que a autora

usou para mexer com a lógica da história.

O suspense da história perde importância para o drama

psicológico das três principais personagens femininas. Quanta

depressão, meu Deus! Uma leitura pesada, melhor partir para

outra se não estiver de bem com a vida, não vale a pena! Mesmo

após o final, o que fica é uma sensação de depressão a solta no

ar. No cerne de tudo estão duas questões fundamentais: a

maternidade e a influência dos parceiros no destino de cada uma

delas.

No entanto, como Hawkins demonstra, as identidades

aparentemente fixas assim como seus enredos têm sua base em

conclusões tão firmes quanto castelos erguidos areias. Quanto

mais Rachel descobre sobre  Megan, menos gosta dela. Em um

eco claro de Garota Exemplar, Scott, o marido aparentemente

aflito, é também mais escorregadio do que a sua maneira

encantadora. Anna, também, parece parecer menos uma vítima

inocente e mais como uma pessoa vingativa. Tom é um cara legal

responsável e muito compreensivo com a sua ex-esposa

extravagante, mas porque parece que há alguma coisa

preocupante espreitando por baixo de sua superfície calma?

Hawkins manipula perspectivas e prazos com grande habilidade,

e um suspense considerável, mas que em determinados

momentos me deu um soninho, se acumula junto com a empatia

por um personagem central incomum que de imediato não

agarra o leitor. Garota Exemplar de Hawkins

é pouco criativa e deixa a desejar.


Quem é quem segundo minha interpretação:

Leiam atentamente e responda se puder as perguntas que se

seguem.

Rachel era casada com Tom, mas Tom teve um caso com Anna,

que agora é sua esposa.

Ele e Anna têm um bebê, cuja babá é a Megan. Megan parece

um pouco com Anna. Ela-Megan, não Anna, vive com Scott, que

é assustador e possessivo, embora Tom também fique nada

atrás. Não tão atrás quanto Kamal, no entanto, que é o

terapeuta de Megan. Rachel logo se tornará paciente do Kamal.

Fique segurando a história um pouco aqui comigo e observe

outros fatos:

Acontece que Rachel, que está obcecada com o ex, faz um

passeio de trem duas vezes por dia que passa pela casa onde

Tom e Anna vivem. Um dia, ela - Rachel, não Anna - vê, ou acha que ela vê, uma mulher de cabelos loiros, que poderia ser Megan, embora possa ser confundida com Anna, beijando um homem de cabelos escuros, que poderia ser Scott, Tom, Kamal, ou possivelmente o cara de entrega FedEx, em uma varanda.

Diante dessa evidência devastadora, ela, Rachel, se torna uma detetive, juntando-se, um pouco imprudentemente, com Scott, que acredita, um pouco errado, que é amiga de Megan.

Então vamos lá juntar tudo:

(1) Quem se relaciona com quem?

(2) Quem não se relaciona?

(3) Quem é atacado?

(4) Por que Rachel não pode ocupar-se de sua própria vida?

Tais são os problemas que surgiram do livro e no filme principalmente, que eles não podiam ignorar. Eu não consegui.

Será que importa que a trama esteja tão cheia de buracos que

você poderia usar para drenar espaguete? Para mim a resposta é

sim! Me importei com os buracos deixados e o final clichê. Os

leitores inocentes da novela de Hawkins, podem nem se

importar que o toque final seja visível de muitas léguas distantes.

Foi muito fácil para mim descobrir o “gran finale”, o que me fez

perder o interesse pela leitura, que eu só conclui porque estava

lendo em conjunto com um grupo de pessoas.

Ah! Fica uma crítica sobre o título: As personagens principais são

mulheres, e rotulá-las como meninas é como taxa-las de infantis,

como se fossem facilmente levadas por circunstâncias ou

sentimentos de uma adolescente e, portanto, mais propensas a

se perderem ou a não conseguir lidar com os sentimentos, e,

precisar submeter seus problemas à consideração dos adultos.

Elas podem ser tudo, menos chamadas de garotas.

Desejo que se alguém for se aventurar a ler Garota no Trem

tenha uma experiência mais prazerosa do que a minha.


Título: A Garota no Trem

Autora: Paula Hawkins

Editora: Record

Páginas: 378

Ano: 2015


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