SINOPSE
Todas as manhãs Rachel pega o trem das 8h04 de Ashbury para
Londres. O arrastar trepidante pelos trilhos faz parte de sua
rotina. O percurso, que ela conhece de cor, é um hipnotizante
Em determinado trecho, o trem para no sinal vermelho. E é de lá
que Rachel observa diariamente a casa de número 15. Obcecada
com seus belos habitantes – a quem chama de Jess e Janson –,
Rachel é capaz de descrever o que imagina ser a vida perfeita do
jovem casal. Até testemunhar uma cena chocante, segundos
antes de o trem dar um solavanco e seguir viagem. Poucos dias
depois, ela descobre que Jess – na verdade Megan – está
desaparecida. Sem conseguir se manter alheia à situação, ela vai
à polícia e conta o que viu. E acaba não só participando
diretamente do desenrolar dos acontecimentos, mas também da
vida de todos os envolvidos.
A história gira em torno de três mulheres e seus relacionamentos
afetivos com Tom e Scott: Rachel, Anna e Megan
Rachel: Separada de Tom, por causa do seu alcoolismo, Rachel
viaja todos os dias num trem que passa por sua antiga
vizinhança, e para evitar olhar para a casa onde vivia observa a
vida aparentemente feliz de Megan, que envolve muito carinho e
sexo com seu marido, até que um dia dá de cara com uma cena
que a deixa chocada: a Megan está com um homem diferente.
Desconcertada com isso e muito bêbada, ela vai até o local, tem
um apagão e mais tarde descobre que Megan desapareceu, e
por estar sempre “perseguindo” seu ex ela se torna suspeita, já
que a vítima trabalha para ele. A partir daí ela tem que tentar se
manter sóbria para descobrir o que aconteceu, quem causou e
até que ponto está envolvida nisso. Rachel não é apenas fraca,
ocasionalmente ela apresenta ser rancorosa e auto-compasiva,
também tem excesso de peso e relativamente pouco atraente;
um saco triste em comparação com uma Megan e Anna.
“De vazio, eu entendo. Começo a achar que não há nada a se
fazer para preenchê-lo. Foi o que percebi com as sessões de
terapia: os buracos na sua vida são permanentes. É preciso
crescer ao redor deles, como raízes de árvore ao redor do
concreto; você se molda a partir das lacunas.” Rachel – pg 114
Anna: Casada com Tom, o ex marido de Rachel, com quem tem
uma filha, e Megan é a babá da criança.
Seu status mudou de amante e segunda opção a dona de casa,
esposa e mãe, Anna não parece se sentir como deveria, uma
mulher realizada, em sua nova função. A dedicação à sua filha é,
talvez, a coisa mais verdadeira e real para ela, porem no
casamento, a sombra de Rachel sempre a incomodou. Ligações
anônimas e mensagens com remetente oculto no celular de Tom
fazem-na pensar que a sua família jamais se veria livre da
perseguição da inconformada ex de seu marido, por mais que ele
dissesse que tais atitudes eram inofensivas.
“Não tem trabalho mais importante do que criar um filho”.
(Anna)
Megan: Casada com Scott, e que na visão de Rachel, é o exemplo
de relacionamento perfeito, onde a felicidade reina plenamente,
no entanto, quando olhamos com os olhos de Megan,
recebemos um choque ao constatar como as aparências
enganam, e que aqueles momentos não diziam nada sobre sua
verdadeira condição. Por mais que a vida de Megan tivesse
muitos confortos, ela não era feliz. Seu passado é uma incógnita,
e ela não está em sincronia com o marido quanto ao casamento.
Semanalmente ela confidencia ao seu terapeuta, Dr. Abdic, todas
as suas infelicidades, e não demora muito para que possamos
perceber que por trás de sua leveza física, não há como
mensurar o tamanho da bagagem emocional que carrega. Megan
passa seus dias em fingimento, e sequer é preciso muita atenção
para perceber a apatia em seu semblante.
“Uma vez, um professor me disse que eu era mestre em me
reinventar. Eu não tinha certeza do que isso significava naquela
época, mas desde que eu me mudei pra cá eu comecei a
entender… Eu quero recomeçar a minha vida. Até agora, eu fui:
uma adolescente rebelde, amante, garçonete, diretora de
galeria, babá e puta. Não necessariamente nessa ordem.”
(Megan)
Você vai conhecendo mais da história de cada uma delas,
entendendo seus dramas e dilemas e cada hora suspeita de uma
coisa que vai ser desconstruída logo em seguida (ou não).
Essa relação de três mulheres aparentemente problemáticas
com os três homens “misteriosos”: Tom, ex marido de Rachel e
atual de Anna, Scott e Kamal Abdic, marido e terapeuta de
Megan, respectivamente, e é a presença deles que nos dá
exemplos claros de dois assuntos que estão entrelaçados no
Temas dentro do enredo: relacionamentos abusivos e gaslighting (O nome
é complexo, mas seu significado é bastante familiar para muitas
mulheres. Trata-se de uma forma de abuso psicológico no qual
informações são distorcidas e/ou omitidas para favorecer o
abusador ou simplesmente inventadas com a intenção de fazer a
vítima acreditar que é louca e neurótica, duvidando de sua
própria memória e sanidade). Relacionamento abusivo não é
apenas aquele marcado por agressões físicas ou trocas de
ofensas e xingamentos. A relação pode se tornar tóxica de forma
bastante sutil, resultando em grande impacto negativo na
autoestima e na confiança da vítima.
O primeiro está explícito desde o momento em que conhecemos
Megan, durante suas sessões de terapia, ela permanece com
Scott mesmo sem vontade nenhuma, mesmo tendo sua vida
completamente controlada, quase como forma de autopunição
pelos seus erros do passado, e só consegue se abrir para Abdic,
com quem tenta ter um caso loucamente. Ele é tão absurdo que
após o desaparecimento esse comportamento agressivo acaba
sendo “transportado” para a coitada da Rachel que entra em
contato tentando ajudar, no final das contas a gente vê que não
importa os erros da pessoa, ninguém merece ser tratado assim.
Inclusive muito do que rola na vida da Megan (e que acaba
causando seu fim trágico) poderia ter sido evitado desde o início
da parte difícil da sua história se ela tivesse tido apoio pra
melhorar e sentir menos culpa pelo que passou.
O segundo nos vemos claramente que a Rachel foi vitima
durante muito tempo, e que isso influencia na sua vida presente
de uma maneira catastrófica, levando-a a acreditar em sua
completa incapacidade de ser elegível para ser amada.
O que é, contudo, a bebida. Rachel é um tônico de vodca
decadente e exuberante em uma taça de plástico. Por isso, ela
atende um único A.A. reunião e bingo! - o problema começa a
ser limpo. Percebemos que o alcoolismo nunca foi um tema
sério; era apenas uma desculpa para a síndrome das falsas
memórias e, portanto, uma maneira preguiçosa que a autora
usou para mexer com a lógica da história.
O suspense da história perde importância para o drama
psicológico das três principais personagens femininas. Quanta
depressão, meu Deus! Uma leitura pesada, melhor partir para
outra se não estiver de bem com a vida, não vale a pena! Mesmo
após o final, o que fica é uma sensação de depressão a solta no
ar. No cerne de tudo estão duas questões fundamentais: a
maternidade e a influência dos parceiros no destino de cada uma
delas.
No entanto, como Hawkins demonstra, as identidades
aparentemente fixas assim como seus enredos têm sua base em
conclusões tão firmes quanto castelos erguidos areias. Quanto
mais Rachel descobre sobre Megan, menos gosta dela. Em um
eco claro de Garota Exemplar, Scott, o marido aparentemente
aflito, é também mais escorregadio do que a sua maneira
encantadora. Anna, também, parece parecer menos uma vítima
inocente e mais como uma pessoa vingativa. Tom é um cara legal
responsável e muito compreensivo com a sua ex-esposa
extravagante, mas porque parece que há alguma coisa
preocupante espreitando por baixo de sua superfície calma?
Hawkins manipula perspectivas e prazos com grande habilidade,
e um suspense considerável, mas que em determinados
momentos me deu um soninho, se acumula junto com a empatia
por um personagem central incomum que de imediato não
agarra o leitor. Garota Exemplar de Hawkins
é pouco criativa e deixa a desejar.
Quem é quem segundo minha interpretação:
Leiam atentamente e responda se puder as perguntas que se
seguem.
Rachel era casada com Tom, mas Tom teve um caso com Anna,
que agora é sua esposa.
Ele e Anna têm um bebê, cuja babá é a Megan. Megan parece
um pouco com Anna. Ela-Megan, não Anna, vive com Scott, que
é assustador e possessivo, embora Tom também fique nada
atrás. Não tão atrás quanto Kamal, no entanto, que é o
terapeuta de Megan. Rachel logo se tornará paciente do Kamal.
Fique segurando a história um pouco aqui comigo e observe
outros fatos:
Acontece que Rachel, que está obcecada com o ex, faz um
passeio de trem duas vezes por dia que passa pela casa onde
Diante dessa evidência devastadora, ela, Rachel, se torna uma detetive, juntando-se, um pouco imprudentemente, com Scott, que acredita, um pouco errado, que é amiga de Megan.
Então vamos lá juntar tudo:
(1) Quem se relaciona com quem?
(2) Quem não se relaciona?
(3) Quem é atacado?
(4) Por que Rachel não pode ocupar-se de sua própria vida?
Tais são os problemas que surgiram do livro e no filme principalmente, que eles não podiam ignorar. Eu não consegui.
Será que importa que a trama esteja tão cheia de buracos que
você poderia usar para drenar espaguete? Para mim a resposta é
sim! Me importei com os buracos deixados e o final clichê. Os
leitores inocentes da novela de Hawkins, podem nem se
importar que o toque final seja visível de muitas léguas distantes.
Foi muito fácil para mim descobrir o “gran finale”, o que me fez
perder o interesse pela leitura, que eu só conclui porque estava
lendo em conjunto com um grupo de pessoas.
Ah! Fica uma crítica sobre o título: As personagens principais são
mulheres, e rotulá-las como meninas é como taxa-las de infantis,
como se fossem facilmente levadas por circunstâncias ou
sentimentos de uma adolescente e, portanto, mais propensas a
se perderem ou a não conseguir lidar com os sentimentos, e,
precisar submeter seus problemas à consideração dos adultos.
Elas podem ser tudo, menos chamadas de garotas.
Desejo que se alguém for se aventurar a ler Garota no Trem
tenha uma experiência mais prazerosa do que a minha.
Título: A Garota no Trem
Autora: Paula Hawkins
Editora: Record
Páginas: 378
Ano: 2015
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