Escolhido para representar o Brasil na premiação do Oscar em 2013, numa vaga na categoria de melhor filme estrangeiro, O Palhaço alcançou a marca de mais de 1 milhão e 500 mil espectadores. Foi indicado em 14 categorias e venceu 12 do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, incluindo a de Roteiro Original, para Marcelo Vindicatto e Selton Mello.
Estamos em um circo pobrinho, mambembe. Uma trupe de saltimbancos. A lona é rasgada, a acomodação pouca, as roupas gastas. Não importa, porque o brilho estará nos olhos de quem vê o artista nesse espaço mágico.
Claro que Selton Mello inspira-se na linguagem universal usada por gênios do cinema como Fellini e Chaplin. Mas aqui, o palhaço está vestido de verde e amarelo e o circo enfeitado pela paisagem de homens e mulheres simples com crianças nos braços, uma plateia unida, sem mau humor, sob a lona do Circo Esperança.
Sinopse:
Benjamim (Selton Mello) trabalha no Circo Esperança junto com seu pai Valdemar (Paulo José). Juntos, eles formam a dupla de palhaços Pangaré & Puro Sangue e fazem a alegria da plateia. Mas a vida anda sem graça para Benjamin, que passa por uma crise existencial e assim, volta e meia, pensa em abandonar Lola (Giselle Mota), a mulher que cospe fogo, os irmãos Lorotta (Álamo Facó e Hossen Minussi), Dona Zaira (Teuda Bara) e o resto dos amigos da trupe. Seu pai e amigos lamentam o que está acontecendo com o companheiro, mas entendem que ele precisa encontrar seu caminho, a sua identidade. Quando chega a hora da partida, a tristeza visita os amigos da diversão e de concreto mesmo, só a certeza de que o mundo dá voltas, redondo com o picadeiro.
Procurando ser alguém:
“Puro Sangue” (Paulo José) e Pangaré (Selton Mello), pai e filho palhaços, abrem o espetáculo. E desfilam a gorda com roupas de menina, a dançarina de vermelho, odalisca e espanhola atraindo olhares, os músicos, os equilibristas e a menina bonita que causa admiração pela lourice. Vale a pena destacar a enorme diferença entre os nomes dos palhaços, o que me leva a pensar sobre o quanto um pangaré deve desejar a ser um puro sangue. A crise existencial começa ja nesse ponto.
Selton Interpretando Benjamin, mostra a angustia de não se sentir completo profissionalmente e as buscas pela identidade pessoal e por novos ares – e justamente aí reside toda a simbologia do ventilador. Presente desde o início, o objeto figura no imaginário do personagem a todo instante após ser indagado por um amigo do circo sobre o motivo de não comprar um ventilador para refrescá-los durante as andanças pelas cidades do interior do Brasil. E os significados começam a jorrar na tela de forma sutil. Benjamin, percebe-se pela riqueza das imagens, culpa a sua falta de identidade (não se vê como pessoa sem ter um RG) por não conseguir alcançar os desejados novos ares.Assim, a sua certidão, sua única identificação, é o passaporte para questionar quem é ele enquanto palhaço e pessoa. Homem de poucas palavras e de poucos sorrisos, o que parece contraditório para alguém que faz rir, Benjamin sonha com o objeto que dará uma ventilada em sua vida, que apontará novos rumos e que o levará a se perceber como uma pessoa completa. Mas, claro, o resultado dessa jornada pessoal nem sempre é o que se espera e, espertamente, o diretor já joga com a perda imediata de identidade de Benjamin quando este larga o picadeiro para buscar ser outro alguém – com RG, CPF e comprovante de residência, como se orgulha de dizer em determinado momento. Ao deixar a trupe para trás, ele cai na escuridão.
É esse o magnífico plano que Selton realiza ao mostrar apenas o preto da sombra do corpo de Benjamin no chão quando os veículos partem sem ele com os objetos do circo . Foi ali, na busca da nova identidade, que o palhaço imediatamente perdeu aquilo que procurava. E só com a compra do ventilador mais adiante é que as ideias de Benjamin são ventiladas, mas não da forma que imaginava, com o simbolismo da mudança.
Há um congraçamento, um sentido de família no circo, que Selton Mello incorporou com perfeição no seu roteiro. Gerações de atores se misturam, contracenando nesse filme que quer ser feliz.
Já começa pela dupla de pai e filho palhaços. Paulo José tem uma longa e vitoriosa história de palcos e telas e o Parkinson não o desencorajou. Continua a ser o ator que carrega a emoção nos olhos brilhantes.
Há uma comunicação comovente entre os dois palhaços que supera a barreira da fantasia e faz pensar na continuidade da profissão de ator. Aliás, na vocação necessária ao exercício pleno dessa arte.
E vamos reencontrar figuras da TV que não vemos há muito tempo. Estão lá Moacir Franco numa ponta magistralmente aproveitada como o delegado Justo e premiada no Festival de Paulínia, o “Zé Bonitinho”, Jorge Loredo e o simpático Ferrugem. Larissa Manoela faz, com graça, o contraponto da nova geração.
“O Palhaço” é um filme delicado, intimista, que não serve gargalhadas, nem piadas chulas.
- Título original: (O Palhaço)
- Lançamento: 2011 (Brasil)
- Direção: Selton Mello
- Atores: Selton Mello, Paulo José, Giselle Motta, Larissa Manoela.
- Duração: 88 min
- Gênero: Comédia Dramática
Amei esse filme! Traz delícias do passado, onde a simplicidade e o amor reina.
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