RESENHA | Depois da Tempestade, de Travis Mulhauser
Depois da tempestade é um suspense envolvente, que se passa no condado de Cutler, em Michigan, que vem a ser a região natal do autor.
Ao chegar lá, porém, Percy se depara ao entrar com Shelton e a namorada completamente desacordados um cachorro morto, e um bebê desprotegido num quarto com as janelas abertas.
Em meio ao caos, ao ar fétido e soturno, ela resgata a pequena Jenna e tenta pedir ajuda a Portis Dale, seu único amigo e o mais próximo de uma figura paterna que ela já teve, que vive numa cabana isolada na colina.
Não demora muito Shelton acorda, e descobre a criança desaparecida. O Enredo segue enquanto ele tenta recuperar Jenna com a ajuda de seus amigos. É uma espécie de jogo de gato e rato, com o drama adicional da nevasca que assola incessantemente o condado. “E esse é o problema com o inverno no condado de Cutler”, Percy reflete, “não é tanto o frio, é o fato de que em algum ponto a surra parece pessoal.” Pg. 24
São esses os elementos que tecem a trama e que toma a forma de uma perseguição eletrizante entremeada de um suspense envolvente.
Porém, não há como escapar sem marcas. E entre mortos e sobreviventes, nenhum dos personagens sairá ileso.
Crítica
Depois da Tempestade atua em muitos níveis, é difícil saber como classificá-lo. Como um thriller, é praticamente perfeito; Mulhauser não se perde em uma única palavra e o romance é mantem o interesse do leitor até o seu final. O suspense é habilmente construído, e as cenas de ação são explosivas e tensas.
Mulhauser trata seus personagens com um senso impressionante de compaixão e profundidade e até mesmo Shelton, o traficante brutal de metanfetamina que uma vez espancou um homem quase até a morte, é humanizado e recebe uma espécie de simpatia até. Shelton é um viciado mais que para tudo para chorar o luto pela perda de seu cachorro, e Mulhauser trata sua dependência realisticamente, recusando-se a classifica-lo simplesmente como um vilão, longe disso, a busca pela pequena Jenna é motivada por sentimentos genuínos de preocupação.
Seus outros personagens são explorados com uma doçura, contudo, carregados com seriedade e humor. Percy explica que ela é considerada em torno da cidade como um moleque, que é o que eles chamam de você em Cutler quando você não usa maquiagem, mas também não é lésbica.
Seu relacionamento com Portis é meigo e hilário, apresenta alguns dos diálogos muito engraçados do romance. “Você costumava ser uma menininha doce, com fitas no cabelo”, Portis reclama em certo momento com Percy. “Você costumava ser incorrupta pelas agressões feministicas.” Pg. 122
Mulhauser não teve medo de acrescentar toques mais leves, principalmente através de seu excelente diálogo, que sempre segue uma dinâmica intensa e envolvente.
Porém não se engane, tem cenas tão angustiante quanto doces e que podem chocar.
Misturar humor e tragédia é sempre um difícil ato de equilíbrio, particularmente em um romance sobre dependência de drogas, famílias desmembradas, suicídio e mortes violêntas, mas fala também sobre lealdade e redenção.
…Sou diferente agora por causa da Jenna e do Portis Dale, e acredito que nós tentamos salvar uns aos outros naquela tempestade, e que na maior parte salvamos. Pág. 250
Ao salvar a Jenna, Percy estava ao mesmo tempo, ainda que ela não tivesse a consciência do fato, se libertando do peso de uma responsabilidade emocional que não cabia a ela ter, ela estava salvando a si mesma e encontrando forças para seguir em fim, seu próprio caminho.
A grande surpresa é o fato de Mulhauser conseguir misturar todos esses temas em um só lugar tão brilhantemente em um romance de estreia. Um verdadeiro milagre!
Depois da Tempestade é divertido, comovente, real, doce e amargo ao mesmo tempo. Uma grande conquista de um autor que parece certo ter uma carreira impressionante pela frente.
Sobre o Autor
Travis Mulhauser, nasceu e foi criado no norte de Michigan, Depois da tempestade é o seu romance de estreia, que foi indicado ao prêmio The Center For Fiction’s First Novel. É também autor da coletânea de contos Greetings From Cutler County. Atualmente vive em Durham, Carolina do Norte, com a esposa e os dois filhos.
Por Jackelline Costa
Ficha Técnica
Título Original: Sweet Girl
Ano: 2018
Páginas: 256
Tradução: Fabiana Colasanti
Editora: Rocco – selo Fábrica 231
Ano: 2018
Páginas: 256
Tradução: Fabiana Colasanti
Editora: Rocco – selo Fábrica 231
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Esta resenha foi originalmente postada no site Cultura&Ação
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