Resenha | Homens não Choram de Jadiael Viana
Sinopse
O ano é 2006, é a estreia do Brasil na Copa do Mundo. Fogos de artifício explodem no ar, colorindo o azul do céu. Samanta é uma jovem ousada que se empenha na árdua tarefa de unir o casal Maximiliano e Eduardo — carinhosamente apelidado de Docinho —, e será capaz de mover céus e terra para vê-los juntos. Compenetrada na sua missão, ela nem ao menos se dá conta de que, aos poucos, está perdendo os seus amigos.Lealdades doloridas, amores roubados e uma trama que vai aquecer, e também partir, o seu coração
.*** AVISO: Não recomendado para menores de 18 anos. Contém cenas de sexo e linguagem imprópria.
Homens não Choram foi sem dúvida o livro mais emocionante que eu tive o prazer de ler em 2019. Quando acabei a leitura estava em prantos, não porque o livro seja uma história triste, mas sim pelo fato dele ser profundamente humano. Logo no início nos deparamos com Samanta, a narradora do livro, de personalidade forte, valente, impulsiva e ousada que nos brinda com os pensamentos tão peculiares e profundos proveniente de sua capacidade e forma de olhar e interpretar o mundo ao seu redor, personalidade essa que, segundo o autor Jadiael Viana foi inspirada em minha pessoa, sendo assim, Samanta não podia ser diferente de tudo o que ela é e que a faz ser única, tanto é assim que ela é capaz de gestos nada convencionais para chegar ao que quer e justifica sua ação com uma frase que só quem tem a segurança do que quer pode falar: “ A primeira vez de uma garota tem que ser especial, a minha foi, e muito. Eu, eu mesma e eu”.
Samanta em sua narrativa, nos apresenta a Eduardo, que foi apelidado de Docinho, Maximiliano, vulgo Max e Leo. E é esse quarteto que compõe a trama que entrelaça as vidas e amores desse romance.
Max é namorado de Léo, mas Samanta tem outros planos em sua cabecinha cheia de vida e pensamentos: unir Max e Docinho. Já ouviram falar que o fim justifica os meios? Pois é! Ao que parece Sam é adepta a esse ditado e nas palavras do próprio autor, ela é capaz de mover céu e terra para vê-los juntos, e não percebe que nesse processo acaba pondo em risco a amizade daqueles a quem mais ela preza. A trajetória de Sam me soa muito familiar e até nisso o autor acertou ao emprestar minha personalidade, amizades que são desfeitas por conta de algo que dizemos ou fazemos, e que magoa o outro que por sua vez se afasta por não conseguir perdoar ou esquecer. Homens não Choram se torna mais humano na medida que nos remete não à finais felizes, convencionais e clichês que já estamos acostumados em romances mamão com açúcar, mas a realidade do ser humano. Ele quebra conceitos e tabus a medida que a luta pelos valores que realmente importam vão sendo mostrados, valores esses que são baseados em amizade, amor e família.
Eu estou conseguindo aos poucos recuperar parte do que se foi, mas se a Sam vai conseguir, você terá que ler para saber.
Temática:
Apesar de sua temática ser LGBT e sua leitura ser aconselhável para maiores de dezoito anos, limitar o livro a apenas um gênero ou apontar ele somente para quem milita a causa é um grande erro. Assim como não se pode e acima de tudo não se deve conter uma bomba atômica dentro de um quarto, esse livro não pode e não deve ser estigmatizado como apenas mais um livro de temática LGBT ou como um romance
hot, pois ele não é somente isso, sua mensagem transcende a todos os dogmas e a qualquer preconceito que se possa haver.
O realismo da escrita está em grande parte, justamente nas descrições sexuais, nos beijos e no desejo, não falar sobre isso seria limitar o realidade da vida a contos de fadas onde do nada a mocinha aparece grávida, seria aceitar as termos homofóbicos de que tanto ouvimos falar, tal como “Ah, eles podem até ser gays, mas que não façam nada para nos constranger”. Usando as palavras da Sam novamente “Um livro pode contar a história de um homossexual, mas jamais conseguirá contar a história da homossexualidade”, mas falar abertamente sobre isso já é um grande passo.
Escrita:
Jadiael Viana tem um estilo próprio de escrever, longe de ser algo erudito, porém está muito mais longe de ser uma escrita para mentes preguiçosas. O livro contém um vasto vocabulário e não é difícil de encontrar terminologias linguísticas poética e regional misturadas com gírias e tudo isso junto dá ao leitor uma sensação de algo antigo mesclado com a atualidade.
Alerta de spoiler
Atendendo a pedidos vou escrever algumas partes do livro, se você não gosta de spoiler, pule essa parte.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
"Max entrava e saia dos relacionamentos, pulava de um namoro para logo embarcar em outro, e eu podia sentir de longe o cheiro de seu desespero. Ele não estava magoando corações, a intenção nunca havia sido essa. Ele só estava tentando fugir daquilo que não podia ter." pág. 23
"O amor é igual a uma mar em precipitação: a maré é sempre alta debaixo da lua cheia, não tem como navegar nessas aguas. É como naufrágio, afogamento, rebentação. \as ondas que se quebram na praia arrastam o nosso barco sempre para o mesmo cais." pág. 23
"O problema é que existem os ferimentos que a gente mesmo faz. sei lá, gostamos de nos mutilar. É como se amássemos a cor arroxeada dos nossos próprios hematomas. O ser humano é uma criatura muito estranha. Acostuma-se com tudo, até mesmo com a dor." pág. 43
"Edu se abraçou a Max. Cheirou seus cabelos, sua pele suada; beijou suas costas. Não resistiu, e cravou a boca no ombro, deixando ali a marca dos seus dentes. O desenho perfeito da sua arcada dentária. Estava tão bom ali. Assim, tão pertinho, tão encaixado um no outro. Ele não queria se afastar de jeito nenhum. Se dependesse dele, não o soltaria nunca mais. Morreriam assim, um nos braços do outro. Um dentro do outro; mergulhado não no ânus, no canal retal, mas nas profundezas da alma. Numa resposta imediata às carícias, Max conseguiu relaxar por completo. Tomou as mãos de Edu nas suas, obrigando-o a abraçá-lo ainda mais, e começou a mexer o quadril." pág. 111
"É tão pouco dizer que eles se beijaram. Não era só carnal. Era um reencontro de almas, quando dois espíritos se deitam na luz um do outro.
Juntaram as bocas, selando os lábios num beijo que nunca acabou. Num beijo que dura até hoje. Um beijo infinito e imortal, eterno e interminável.
Esqueça todos os lugares magníficos do mundo. Era nos braços um do outro que eles mais gostariam de estar." pág. 262
Juntaram as bocas, selando os lábios num beijo que nunca acabou. Num beijo que dura até hoje. Um beijo infinito e imortal, eterno e interminável.
Esqueça todos os lugares magníficos do mundo. Era nos braços um do outro que eles mais gostariam de estar." pág. 262
"Quando eu comecei toda essa campana, eu não sabia se um dia a minha amizade seria verdadeiramente reconhecida ou não. Também nunca me importei. Santos de casa não fazem milagres. Somos todos profetas em nossa própria terra natal. É por isso que o que eu faço ao mundo, eu faço por mim mesma." pág. 264
Sobre o autor:
Natural de Uruçuca, Jadiael Viana de 32 anos passou a adolescência em Carapicuíba, zona Oeste de São Paulo. Atualmente mora em Uibaí, interior da Bahia, onde escreve seus livros.
Link de contato:
Link para compra:
Ficha Técnica
Título: Homens não Choram
Ano: 2019
Páginas: 272
Editora: Raredes
Eu estou sem palavras. Eu não sei o que te falar, eu não faço a mínima ideia do que te dizer. Que resenha incrível. Você mergulha no livro e explora cada dilema, cada evento, cada pedaço. Brigadão, Jack. De coração.
ResponderExcluirJadiael Viana
Adorei a resenha!Li o livro e amei a história assim como a competência de Jardiael Viana ao escreve-la.
ResponderExcluirObrigado, Pri!
ExcluirUau. Exatamente o que senti quando li o livro!
ResponderExcluirValeu, meu parça!
Excluir